JOÃO DOMINGUES MAIA
( BRASIL – SÃO PAULO )
POESIA SEMPRE. Minas Gerais. Número 6. Ano 3 Editor Geral: Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: MINISTÉRIO DA CULTURA / Fundação BIBLIOTECA NACIONAL, 1995. 242 p. ISSN 0104-0626
Exemplar na biblioteca de Antonio Miranda
La Loire
Há um rio, la Loire,
que desagua no mar
como todos os rios,
mas que chega a outro Rio
(de Janeiro).
Em como sei
que as águas se misturam
como nossos corpos,
aqui, nesta praia ensolarada,
sei que uma gota do teu rio
toca esta praia do Rio
(de Janeiro).
Por isso
quando tiveres uma lágrima
de alegria ou tristeza
lança-a no rio
da tua cidade...
E eu saberei
que existes e sentes
e que, provavelmente
tua vida toca meus lábios
neste mar do Rio.
A velha e o gato
O tempo chegou aos olhos
e se alojou nos braços
antes de descer à pernas.
Já não importava o filho,
não renascia nos netos,
e já não pensava em Deus.
Só havia aquele gato
que na calma refazia
todo dia a mesma sopa
e com ela repartia.
Já não havia o croché,
os álbuns já não abria,
já não havia o embrulho
Só havia aquele gato
de olhos enremelados
que com ela dividia
a ausência do passado.
Vigília
No domingo da cidade azul
por sobre nossas cabeças
e nossos olhos finitos
os edifícios parecem
enxergar no infinito
um horizonte fantástico
com cinco garra de ouro
e uma lanterna de fogo
na curva do mar, no mundo,
domingo e ninguém na rua.
Com cinco garras de terra
destino misterioso
no som da guitarra elétrica
no som da cidade nada,
domingo e ninguém na rua.
São pelas dez da manhã:
— um cachorro atropelado
— um bêbedo na calçada
— uma lata de lixo acesa
e uma guitarra elétrica.
São pelas dez da manhã
por sobre nossas cabeças
nos dia em que poucos olharam
para ver a cidade assim
— sob o maior edifício
— sob o maior azul.
as cinco garras de ouro
um avião
uma bomba.
*
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Página publicada em outubro de 2024
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